A bicicleta que ela abandonou porque mora longe
demais da universidade está com os pneus murchos e pegando poeira. O carro está
igualmente cheio de poeira, mas é porque ela não tem muito tempo e cuidado para
com ele. Ele serve de transporte, como a outros serve de roupa para suas
vaidades. Ela não tem a vaidade de lavar o carro toda semana. Nem de procurar
um carro mais novo. Já basta a gasolina que alimenta as empresas petrolíferas
que sufocam os seus trabalhadores com os salários envergonhados diante dos
números incompreensíveis dos lucros dos investidores nem um pouco interessados
em energia limpa. A fumaça mais ou menos invisível desse custo sai de milhares
de carros ao seu redor.
O caminho de carro até a universidade supõe todo um
universo – uma perspectiva de indiferença sobre aqueles que não têm carro
porque são pobres e enfrentam a precariedade do transporte público abarrotado,
atrasado e sempre monopolizado, sobre aqueles que engolem os riscos do trabalho
nas refinarias, sobre o enriquecimento de alguns donos de barris em detrimento
das pessoas ao redor: exilados ambientais, econômicos e políticos. Uma
perspectiva de indiferença sobre as toneladas de gás carbônico respirados todos
os dias pela humanidade. Ela não escolhe o caminho feito a pé, nem de
bicicleta, nem de ônibus, nem de carona. E isso torna-a responsável pelo
desastre ambiental iminente, pelo cofre cheio de alguns, pelo descaso aos
ciclistas da parte de quase todo mundo que não pedala, pela continuidade de um
sistema insustentável, pela continuidade da publicidade automotiva
preconceituosa e segregacionista. Torna-a responsável pelo mundo como ele é.
Nenhum comentário:
Postar um comentário