quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Mimosa


Na estrebaria, a avó tinha uma vaca preferida. Era a Mimosa.
A formosura do nome faz a gente pensar nas conversas que elas podiam ter, e nos tapinhas na barriga rechonchuda depois do leite fresco.
Para a menina que olhava de longe, ficava sempre a pergunta sobre se as vacas iam pro céu depois do fim. Não dava para saber, mas ela preferia não arriscar. E esperava que continuassem placidamente conversando com a avó ali mesmo, enquanto havia tempo.
De qualquer forma, em se tratando das vidas dos outros, não dava pra perder nenhum tempo. Para cada um, passa muito, muito depressa. Imaginar que a vida de sua amiga Laika dava só um pedaço da sua! E ela queria ficar por perto para saber como era viver uma vida de vaca, uma vida de galinha e uma vida de cachorro – desses que a gente vê passando o tempo tão despreocupadamente. (Embora ela soubesse de alguns que não eram felizes em absoluto!)
E como era viver uma vida de tatu ou de passarinho ou de onça – esses que pareciam bem mais atarefados do que ela. (Devia dar uma baita trabalho procurar comida o dia todo!)
A avó nunca contava as conversas com Mimosa, por mais que insistisse. E era uma pena, porque decerto daria para saber alguma coisa do que significava para ela viver na casa da avó. E se ela quisesse um dia ir embora?
Não dava para saber, mas ela preferia não arriscar.
Para saber como era viver uma vida de bicho, ela tinha que olhar para eles o tempo todo e eles tinham que estar por perto. E era uma pena que para alguns não desse tempo, que os levassem embora cedo demais, perplexos demais.
Ela não compreendia porquê as outras pessoas achavam isso tão desimportante, já que viviam ao lado deles tanto quanto ela. E não compreendia porquê ela devia comer sem reclamar e sem ficar inventando histórias. Mas, e se tivesse sido uma amiga de Mimosa?
Ela preferia não arriscar.

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