Na estrebaria, a avó
tinha uma vaca preferida. Era a Mimosa.
A formosura do nome faz
a gente pensar nas conversas que elas podiam ter, e nos tapinhas na barriga
rechonchuda depois do leite fresco.
Para a menina que olhava
de longe, ficava sempre a pergunta sobre se as vacas iam pro céu depois do fim.
Não dava para saber, mas ela preferia não arriscar. E esperava que continuassem
placidamente conversando com a avó ali mesmo, enquanto havia tempo.
De qualquer forma, em se
tratando das vidas dos outros, não dava pra perder nenhum tempo. Para cada um,
passa muito, muito depressa. Imaginar que a vida de sua amiga Laika dava só um
pedaço da sua! E ela queria ficar por perto para saber como era viver uma vida
de vaca, uma vida de galinha e uma vida de cachorro – desses que a gente vê
passando o tempo tão despreocupadamente. (Embora ela soubesse de alguns que não
eram felizes em absoluto!)
E como era viver uma
vida de tatu ou de passarinho ou de onça – esses que pareciam bem mais atarefados
do que ela. (Devia dar uma baita trabalho procurar comida o dia todo!)
A avó nunca contava as
conversas com Mimosa, por mais que insistisse. E era uma pena, porque decerto
daria para saber alguma coisa do que significava para ela viver na casa da avó.
E se ela quisesse um dia ir embora?
Não dava para saber, mas
ela preferia não arriscar.
Para saber como era
viver uma vida de bicho, ela tinha que olhar para eles o tempo todo e eles
tinham que estar por perto. E era uma pena que para alguns não desse tempo, que
os levassem embora cedo demais, perplexos demais.
Ela não compreendia
porquê as outras pessoas achavam isso tão desimportante, já que viviam ao lado
deles tanto quanto ela. E não compreendia porquê ela devia comer sem reclamar e
sem ficar inventando histórias. Mas, e se tivesse sido uma amiga de Mimosa?
Ela preferia não
arriscar.
Pra ruminar, ainda que arriscado.
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